quarta-feira, 20 de maio de 2015

Textos Selecionados



1) https://psicarlaegidio.wordpress.com/2012/09/24/psicologia-institucional-e-psico-higiene-de-jose-bleger/

Acredito ser importante começarmos definindo o que é instituição, portanto: “Organização de caráter público ou semi-público que supõe um grupo diretório e, comumente, um edifício ou estabelecimento físico de alguma índole, destinada a servir a algum fim socialmente reconhecido e autorizado… correspondem unidades como asilos, universidades, orfanatos, hospitais, etc.
O conceito de Psico-Higiene, de José Bleger, baseia-se na proposta de que o psicólogo deve ultrapassar a atividade psicoterápica, que visa o doente e a cura, e praticar a psico-higiene, que foca uma população sadia e a promoção da saúde. É preciso, então, novos instrumentos de trabalho – conhecimentos e técnicas que sirvam a este propósito.
É mencionado 6 tipos de instituição: 1 – instituições culturais básicas (família, igreja, escola); 2 – instituições comerciais (empresas comerciais e econômicas, união de trabalhadores, empresas do Estado); 3 – instituições recreativas (clubes atléticos e artísticos, parques, campos de jogos, teatros, cinemas, salões de bailes); 4 – instituições de controle social formal (agências de serviços sociais e governamentais); 5 – instituições sanitárias (hospitais, clínicas, campos e lugares para convalescentes); 6 – instituições de comunicação (agências de transportes, serviços postal, telefone, jornais, revistas, rádios).
O psicólogo deve focar sua atenção na atividade humana e no efeito dela. Assim, é preciso as seguintes informações: a – finalidade e objetivo da instituição; b – instalações e procedimentos com os quais alcançam os objetivos; c – situação geográfica e relações com a comunidade; d – relações com outras instituições; e – origem e formação; f – evolução, história, crescimento, mudanças, tradições; g – organização e normas que a regem; h – contingente humano que intervém nesta instituição; i – avaliação dos resultados do seu funcionamento (tanto para a instituição quanto para os integrantes dela).
O que caracteriza especificamente a psicologia institucional é o enquadramento da tarefa a ser feita e para isto devemos considerar 2 aspectos que estão inter-relacionados entre si: 1 – toda tarefa deve ser empreendida e entendida em função da unidade  e totalidade  da instituição; 2 – o psicólogo deve considerar a diferença entre a psicologia institucional (profissional contratado para prestar um serviço) e o trabalho psicológico em uma instituição (profissional como funcionário da empresa). Quando o psicólogo é funcionário da instituição, ele perde a neutralidade.  A psicologia institucional não pode ser exercida se o profissional for um funcionário, pois deixa de ser um mentor ou consultor. A impossibilidade de um funcionário exercer a função de psicólogo institucional deriva do fato de que poderia haver uma superposição e confusão no enquadramento, o que prejudicaria o trabalho a ser feito e comprometeria o resultado e a neutralidade deste.
Para o enquadramento (variáveis que limitam as atividades a serem exercidas pelo profissional para a instituição) deve-se considerar: 1 – tudo o que for feito, deve ser feito para unidade e totalidade da instituição; 2 – o psicólogo deve ter em mente a diferença entre psicologia institucional e o trabalho do psicólogo na instituição (como já mencionado acima); 3 – o profissional pode ser contratado para uma questão específica; 4 – a remuneração não pode comprometer sua independência profissional; 5 – fixar primeiramente o horário global da tarefa e depois os honorários.
O horário gasto na atividade deve estar de acordo com o número de pessoas envolvidas no trabalho a ser feito. Devemos também, considerar o tempo que será gasto fora da instituição, como o estudo do material recolhido, redação e protocolos.
Quando for feito o enquadramento, todas as questões devem ser esclarecidas totalmente, não restando nenhuma dúvida ou sub-entendido.
Os objetivos, da instituição, tanto explícitos e como implícitos, devem ser completamente esclarecidos ao profissional, assim como a finalidade para qual ele foi contratado.
Geralmente o motivo da consulta ao profissional, não é o problema, mas sim, um sintoma do problema real.
O conflito, não é algo necessariamente negativo. Torna-se negativo, se não for buscado a resolução dos problemas, se houver fuga ou se forem ignorados (estereotipias). Os conflitos propiciam o crescimento tanto da instituição quanto dos envolvidos. Ele é próprio da natureza humana, e nos encaminha para o desenvolvimento. Quando se supera o conflito, o resultado é algo melhor, algo mais desenvolvido que antes. A estereotipia não favorece a superação, é a ausência de conflito pela fuga ou esquiva da resolução dos conflitos presentes.
Somos formatados a partir das instituições. Somos algo, baseado no que fazemos, em nossos cargos, em nossas funções. Alterar algo dentro da instituição é alterar as bases das pessoas envolvidas nelas, é desestabilizá-las, e por isso, muitas vezes a psicologia institucional não é muito bem quista, por serem ameaçadoras. Trata-se de uma organização externa que reflete diretamente na organização interna das pessoas, e o que fazemos nos dá um lugar no mundo.
Para William James a identidade é compreendida desta forma: identidade = eu+mim, ou seja, o que eu faço, o que eu penso, minhas decisões + o que eu sou para o mundo, como os outros me vêem. E o eu, em alguma medida está depositado em situações e objetos externos.

As instituições acabam perpetuando os problemas pelos quais procuram um profissional. Como exemplo podemos analisar a questão de um hospital, que geralmente é doentio, ou então, o manicômio, que acaba por desintegrar ainda mais seus pacientes, também a prisão, que acaba por propiciar ao detento o aperfeiçoamento de novas técnicas de crimes.

Segundo Bleger,
A psicologia institucional constitui-se num capítulo novo no desenvolvimento da ciência psicológica, e isto requer um olhar mais demorado quanto aos aspectos implicados neste contexto…
Segundo o autor a psicologia institucional constitui-se num capítulo novo no desenvolvimento da ciência psicológica, e isto requer um olhar mais demorado quanto aos aspectos implicados neste contexto.
Inicialmente, Bleger pontua que “a posição geral sustentada pode se resumir nas seguintes proposições”, já dadas a conhecer anteriormente em outra publicação: a) o psicólogo como profissional deve passar da atividade psicoterápica [doente e cura] à da psico-higiene [população sadia e promoção de saúde];
b) “para isso, impõe-se uma passagem dos enfoques individuais aos sociais” (p. 31).
Fica clara, neste texto, a importância do equilíbrio na relação teoria-prática, quando se afirma que a prática não é um desmembramento sujeitado à ciência, mas, ao contrário, o seu núcleo vital; bem como a investigação científica não está acima ou para além da prática, porém inserida no curso da mesma. Ambos devem devem estar interligados inseparavelmente.
O autor vai mais além quando ressalta que a psicologia institucional não representa uma extensão da psicologia aplicada, e sim um campo psicológico de extraordinário avanço tanto no aspecto investigativo quanto no desenvolvimento da prática profissional
da psicologia.
Progressivamente, a psicologia institucional pode ser assim desenhada quanto à sua atuação: a) âmbito psicossocial [indivíduos]; b) âmbito sócio-dinâmico [grupos]; c) âmbito institucional [instituições]; e, d) âmbito comunitário [comunidades].
Com relação ao estudo das instituições, ele diz respeito a três fundamentos: o estudo da estrutura e dinâmica das instituições, estudo da psicologia das instituições e a estratégia do trabalho em psicologia institucional.
Afinal o que vem a ser psicologia institucional? Para Bleger “a psicologia institucional caracteriza-se pelo âmbito (as instituições) e por seus modelos conceituais; dentro de sua estratégia inclui-se, como parte fundamental, o enquadramento da tarefa e a administração dos recursos” (p. 37).
Burgess cita quatro principais tipos de instituições, a saber: instituições culturais básicas, instituições comerciais, instituições recreativas e instituições de controle social formal. Além disso, Young acrescente as instituições sanitárias e as instituições de comunicação.
Há dois princípios essencialmente interligados: a) toda tarefa precisa ser empreendida e entendida em função da unidade e da totalidade institucional; e, b) cabe ao psicólogo considerar a diferenciação entre psicologia institucional e o trabalho psicológico dentro de uma instituição.
É de vital importância a observância que “a dependência econômica do
psicólogo institucional tem que ser fixada em termos tais que não comprometem sua total independência profissional” (p. 40).
Quanto aos objetivos da instituição e do psicólogo, o texto ressalta que ambos têm que ser perfeitamente conhecidos como prerrogativa de um ponto de partida para um trabalho profissional. Salienta ainda o autor que o psicólogo precisa ter em mente sempre que o motivo de uma consulta não é o problema de fato, mas sim um sintoma do mesmo. Mais especificamente, os objetivos do psicólogo devem focar:
a) demarcação geral da sua tarefa;
b) aceitação ou não dos objetivos da instituição;
c) diagnóstico dos objetivos particulares.
A propósito, o objetivo final do psicólogo institucional configura-se num objetivo de psico-higiene, ou seja, a obtenção da melhor organização e condições as quais possam promover saúde e bem-estar dos integrantes da instituição. Ainda com relação aos objetivos do psicólogo, Bleger afirma que o profissional não se deve aceitar jamais um trabalho em uma determinada instituição cujos objetivos conflitam com os dele. Em psicologia, a ética precisa coincidir com a técnica. Finalmente, é enfatizado textualmente que, aceitando o psicólogo os objetivos de uma instituição, significam apenas uma condição para o enquadramento de sua tarefa, mas os objetivos da instituição não são seus objetivos profissionais.
Para Bleger, o modelo do enquadramento
psicanalítico consiste numa indagação operativa, cujos passos podem ser assim descritos: a) observação de acontecimentos e seus detalhes; b) compreensão do significado dos fatos; c) inclusão dos resultados desta compreensão; e, d) consideração do passo anterior como uma hipótese.
As técnicas do enquadramento podem ser definidas como “o conjunto de operações e condições que conduzem a estabelecer o enquadramento e que constituem também uma parte do mesmo” (p. 47). E elas são assim demonstradas:
a) Atitude clínica: identificação com os fatos e pessoas, mas a possibilidade da manutenção de certa distância para evitar implicação pessoal.
b) Estabelecimento de relações claras e profissionais.
c) Esclarecimento do caráter da tarefa profissional.
d) Não realização de tarefas com grupos da instituição que não manifestarem aceitação correspondente.
e) Não admissão de imposições.
f) Segredo profissional e estrita lealdade.
g) Limite de contatos extra-profissionais.
h) Abstinência de partido profissional.
i) Não aceitação de função diretora, administrativa nem executiva.
j) Responsabilidade compartilhada.
k) Não formar superestruturas que se desgostem outras autoridades.
l) Não fomentar a dependência psicológica.
m) Estrito controle da informação.
n) Não usar como índice de avaliação o progresso da instituição.
o) Fazer compreender os fatores em jogo.
p) Contar sempre com a
presença da resistência.
q) “Uma instituição não deve ser considerada sadia ou normal quando nela não existem conflitos, e sim quando a instituição pode estar em condições de explicitar seus conflitos e possuir os meios ou a possibilidade de arbitrar medidas para sua resolução” (p. 50).
r) Não aceitar a estipulação de prazos fixos para tarefas e resultados.
Bleger define “grau de dinâmica” não como a ausência de conflitos, e sim pela possibilidade da explicitação, manejamento e resolução dentro dos limites institucionais. Ou seja, a patologia do conflito se refere não apenas à existência do conflito, mas com a ausência dos recursos necessários para a sua resolução. Destaca o texto que a estereotipia constitui numa das defesas institucionais mais comuns frente ao conflito. Desta forma, cabe ao profissional em psicologia institucional – verdadeiro agente de mudança e catalisador de conflitos – reconhecer os mecanismos e não agir em função deles, mas sobre eles, modificando-os.
Prosseguindo, o autor distingue conflito, problema e dilema. O primeiro representa as forças controvertidas no interjogo; o segundo, tem a possibilidade de se transformar em conflito e finalmente o último é tido como uma opção irreconciliável.
O que se entende por psicologia das instituições? Bleger responde: “o estudo dos fatores psicológicos que se acham em jogo na instituição, pelo mero fato de que nela participam
seres humanos e pelo fato da mediação imprescindível do ser humano para que ditas instituições existam” (p. 55).
Considerando que quanto mais integrada a personalidade, menos dependente do suporte institucional, e vice-versa, deduz-se que toda instituição é mais do que um instrumento de organização, regulação e controle social; é na verdade, um instrumento de regulação e de equilíbrio de personalidade. Ademais, se levarmos em conta que as organizações institucionais são depositárias das partes mais imaturas da personalidade e fonte de infelicidade e distorção psicológica dos indivíduos, cabe ao psicólogo focar a estrutura alienada da instituição e trabalhar para que a organização institucional seja o meio de enriquecimento e desenvolvimento da personalidade.
Bleger afirma que “é na instituição hospitalar onde a psicologia institucional provou até agora ser um dos campos onde se torna muito proveitosa sua utilização” (p. 60). Este tipo de instituição, segundo o autor, é menos conflituosa para o próprio psicólogo em relação à sua ideologia bem como aos seus objetivos.
Finalmente, toda empresa tem como objetivo fundamental, de uma ou de outra maneira, um incremento de sua produtividade – melhor dito, de suas utilidades – e do psicólogo se espera, explícita ou implicitamente, uma condução das relações humanas que leve a esta finalidade. Em nenhum caso o psicólogo deve se situar como agente ou
promotor da produtividade, porque não é esta a sua função profissional; seu objetivo é a saúde e o bem-estar dos seres humanos, o estabelecimento ou criação de vínculos saudáveis e dignificantes. Seus objetivos podem levar tanto a um aumento da produtividade – ou dos benefícios – como a uma diminuição da mesma, de maneira passageira, transitória ou estável, mas em nenhum caso é isto o que mede a eficácia de sua tarefa (p. 63).
Em qualquer situação, deve-se salientar que o psicólogo deve trabalhar com exclusividade segundo os seus objetivos e rechaçar tarefas incompatíveis aos seus propósitos. E sua finalidade última é buscar na psico-higiene a promoção da saúde dos indivíduos e seus respectivos grupos.
Hodiernamente, a importância do conhecimento das implicações da fundamentação da psicologia institucional assume feições de caráter essencial à medida que o contexto da atuação do profissional em psicologia avança sem precedentes na história recente das instituições.
Atuar no viés da psicologia institucional requer conhecimento prévio e especificado uma vez que a instituição é muito mais do que um lugar de interações trabalhistas; é um ponto de convergência das diversas personalidades que ali se interagem.
Promover a saúde destes indivíduos é procurar a sanidade institucional seja qual for o contexto no qual o psicólogo esteja situado.
Saúde à psicologia institucional!
Neir Moreira

3) 

Psicologia Institucional é o nome dado à abordagem das Instituições, fundamentada no referencial psicanalítico. Difundiu-se no RG sul a partir da Argentina, na década de 60.

Psicologia Institucional é o nome dado à abordagem das Instituições, fundamentada no referencial psicanalítico. Difundiu-se no RG sul a partir da Argentina, na década de 60..Jose Bleger – Psico-higiene e psicologia institucional

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